29 de março de 2011

Sugestões de leitura

A rua metropolitana transitória

Artigo de Gustavo de Casimiro Silveirinha
(*) Arquitecto, Doutorando IST,
INFOHABITAR - revista do grupo habitar, Ano VII, n.º 339

“A dicotomia entre aparência e realidade assumiu grande relevância na concepção do mundo material. A noção de que a função da ciência é dizer o que a humanidade pode dizer sobre a natureza e não o que ela realmente é, levanta questões acerca da relação entre a forma como se dá um fenómeno determinado e as limitações para o observar e entender com o máximo de precisão.” (1)

O modo como a cidade tem sido observada reflecte uma noção pouco estruturada, que se torna óbvia se se focar a atenção na envolvente das áreas metropolitanas nomeadamente a AML – Área Metropolitana de Lisboa.

Observar a cidade através do traçado e não do tecido edificado permitirá alguma abstracção, necessária num processo de análise de tensões e fenómenos urbanos ou metropolitanos, capaz de abarcar uma escala e conjunto.

Os ritmos económicos, culturais e sociais não permitem hoje uma unidade de desenho das cidades. Apesar de ligadas por infra-estruturas, dizemos que lhes falta um traçado unificador.

As cidades contemporâneas metropolitanas estão a dotar-se de centros de passagem de grandes infra-estruturas e cruzamentos de vias, onde se localizam recorrentemente interfaces que dispensam a necessidade de circulação até ao seu centro para se usufruir do serviço motivador da deslocação.

O que impede a cidade de se desintegrar morfologicamente podem ser elementos de transição: capilares metropolitanos, ruas e vias que permitem a circulação entre infra-estruturas metropolitanas que conferem à cidade escala humana, constituindo a cidade vivencial. É neste conjunto de elementos que se encontra a rua metropolitana transitória, com o sentido simultaneamente temporal e espacial.

Surgem espacialmente entre as vias viárias infra-estruturais e os aglomerados urbanos adjacentes, sendo por isso elementos de transição, mas o seu carácter e perfil não se encontra ainda definido, sendo por isso o actualmente transitório.

A passagem de escala entre infra-estrutura e traçado urbano deve ser assim assumida pelos capilares metropolitanos transitórios, complementados com espaços de descompressão como parques e praças, com identidade de desenho, com capacidade para se concretizarem como espaço público.

As grandes Infra-estruturas de distribuição
Por simplificação referimo-nos neste artigo como infraestrutura, os grandes “canais de distribuição dos fluxos viários à escala metropolitana e “ruas metropolitanas transitórias às vias rápidas e com capacidade elevada intermédias com os traçados urbanos de escala local.
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Fragmentação do Tecido Urbano
Com o avanço constante ou contínuo do processo de urbanização do território, assiste-se a uma aparente perda de controlo do desenho da cidade. O processo evolutivo, nem sempre constante e dependente de mais variáveis, levou ao aparecimento de franjas de território construído.
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Diferenciação
Os novos centros metropolitanos carecem de identidade devido em muito à fraca estruturação do traçado.

A diferenciação pode conferir ao traçado da malha urbana características de âmbito social, para que nestas áreas outrora de periferia possa surgir um maior sentido de pertença.
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A rua – Espaço público
A definição da palavra “Praça” como “Lugar largo e espaçoso, ordinariamente rodeado de edifícios”, que propicie a convivência ou a sua apropriação para recriação, complementada com a definição de Jane Jacobs dos quatro elementos necessários para que um parque ou praça funcione – complexidade, centralidade, insolação e delimitação
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A rua metropolitana transitória
A cidade é um sistema aberto, um organismo que necessita de energia e bens da envolvente.

Como sistema que é funciona como um conjunto de elementos interligados, interdependentes.

O grande objectivo das circulares e infra-estruturas viárias de localização exterior ao tecido consolidado era escoar a maior quantidade de tráfego do centro da cidade. A este objectivo soma-se o de evitar a necessidade de entrada na malha viária mais estreita para atravessar a cidade, congestionando-a. Ambos os objectivos aparentemente são cumpridos, por exemplo na 2.ª Circular, mesmo sendo que se denuncia a contradição e eminente esgotamento, estando muitas vezes congestionada.
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Casos
Rua Quinta de Santa Maria, Santa Maria dos Olivais ...
Ligação Avenida de Berlim – Avenida Cidade do Porto, Alameda da Encarnação, Santa Maria dos Olivais ...
Rua Doutor João Couto, Benfica ...
Avenida Marechal Craveiro Lopes, Campo Grande ...

Conclusão
A classificação de rua metropolitana transitória pode ser considerada temporária em relação às vias existentes, com a expansão da cidade, na medida em que elas poderão progressivamente “urbanizar-se”, ao transformar-se em “ruas urbanas”, avenidas ou até “mainstreets” de bairro, enquanto outras surgirão como novas ruas metropolitanas, com escala adequada a nova ligações supra-municipais.

Também no que se refere ao papel espacial transitório da rua em relação a uma infra-estrutura de elevado tráfego, o carácter desta é simultaneamente transitório espacial e temporalmente, uma vez que o seu posicionamento, dada expansão da cidade se foi alterando. Mas a médio prazo é previsível que o seu perfil se altere também e se torna também mais urbana e a sua escala adaptada à realidade envolvente, pelo que a ocorrer será uma alteração de escala em diversos graus da hierarquia viária.

Estes exemplos demonstram que a cidade funciona, mas poderia ser optimizada enquanto sistema, e enquanto elemento de vivência humana, pela qualidade de circulação, mobilidade, espaço público e identificação com o espaço urbano.

A concretização da cidade como um sistema funcional permitirá evitar o congestionamento das vias, facilitando a mobilidade e potenciando o funcionamento da cidade. A mobilidade cria qualidade de vivência e riqueza, factores que potenciam a expansão da cidade. Deste modo o sistema condicionar-se-á e controlar-se-á a si próprio.

O reconhecimento da cidade através da sua identidade não se deve à replicação pura e simples de soluções que funcionem em determinado momento e espaço, mas na qualificação de soluções parciais, na medida em que funcionem em conjunto de modo a transmitir essa identidade. A concretização do conceito de rua como espaço público e, permite a minimização dos custos a nível de desenho e espaço urbano pela implantação e influência das infra-estruturas, seja de que naturezas for. (ex. viária, ferroviária).

Assim a tendência da rua metropolitana transitória é a de se urbanizar, e ser um “condutor de urbanização”, de se adaptar à evolução da cidade, da alteração dos usos do solo, da localização de novos equipamentos

Haverá no entanto que considerar um regresso progressivo a um centro das cidades cujo crescimento potenciou a sua desocupação. Esta reocupação implicará também reavaliar a relação das infra-estruturas viárias com o tecido urbano pré-existente através de ruas transitórias.

Deste modo será possível aproveitar as mudanças de paradigma urbano para concretizar novas soluções de desenho urbano e traçado que permitam a consolidação da cidade como sistema integrado de sistemas urbanos de menor escala.

Os novos territórios e tecidos urbanos criados por novas infra-estruturas deve-se referir que estes têm o potencial de adaptação que o tecido consolidado pode já não ter, de adaptação prévia e qualificação quer do espaço público, quer especificamente da das relações entre tecido urbano e infra-estrutura, com especial atenção às ruas transitórias e à cidade transitória que as engloba.
...

link para o texto integral: http://infohabitar.blogspot.com/

Newsletter MOV LISBOA N.º 2

O Pelouro da Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa lançou o número 2 da Newsletter MOV LISBOA, uma publicação quinzenal com a finalidade de apelar e contribuir para o desenvolvimento de práticas correctas.
Nesta segunda edição, a MOV LISBOA 2 vem deixar-lhe algumas ideias e também algumas preocupações. No Editorial, a necessidade de uma nova cultura, uma nova forma de estar para resolver o possível na área da Mobilidade, gradualmente, sem cruzar os braços; os estacionamentos, as formas de pagamento tradicionais e as modernas, as zonas de maior incidência de acidentes e outros assuntos...

Link para a Newsletter:
http://www.cm-lisboa.pt/archive/doc/MOV_2_Marco2011__3_.pdf

enviado por:
Maria Albina Martinho

GECoRPA

O GECoRPA é uma associação de empresas da área da reabilitação do edificado em geral, e da conservação do património arquitectónico, em particular.
No site
http://www.gecorpa.pt/index2.html
é possível consultar diversos textos sobre urbanismo.

Salientam-se as comunicações do:
“Encontro Património Natural e Cultural – Construção e Sustentabilidade”
... entre outras:
“Vida no Campo” - Álvaro Domingues
“Bairros e Zonas Prioritárias de Lisboa” - urbanismo de reciclagem em tempo de crise" - Helena Roseta - C. M. Lisboa

disponíveis para download em:
http://construcaosustentavel.gecorpa.pt/comunicacoes.htm

Aulas Abertas de Sociologia Urbana e Planeamento Estratégico e Governância Urbana

... no âmbito do Mestrado em Urbanismo e Ordenamento do Território
- Sociologia Urbana
- Planeamento Estratégico e Governância Urbana

31 de Março de 2011 - "Cenarização e estratégias de actores", Prof. José Luiz Almeida e Silva (IPL)
http://www.apgeo.pt/files/docs/Newsletter/MUOT%20aula_31-03_2011.pdf

14 de Abril de 2011 - "Intervir em bairros críticos", Drª. Susana Sousa (IHRU)
http://www.apgeo.pt/files/docs/Newsletter/MUOTaula_14_04_2011.pdf

28 de Abril de 2011 - "Pobreza urbana - conceptualização e acção", Prof. José Manuel Henriques (ISCTE)
http://www.apgeo.pt/files/docs/Newsletter/MUOTaula_28_04_2011.pdf

5 de Maio de 2011 - "Minorias e cidades - entre o conflito e a integração", Prof. Jorge Malheiros (IGOT)
http://www.apgeo.pt/files/docs/Newsletter/MUOTaula_05_05_2011.pdf

13 de Maio de 2011 - "Dinamizar a cidadania: contextos, estruturas e instrumentos na cidade e na sua governação", Prof. João Seixas (ICS)
http://www.apgeo.pt/files/docs/Newsletter/MUOTaula_13_05_2011.pdf

20 de Maio de 2011 - "Activismo cívico", Tiago Figueiredo (Movimento Viver Lisboa)
http://www.apgeo.pt/files/docs/Newsletter/MUOTaula_20_05_2011.pdf

in: notícias APG

22 de março de 2011

Programa Prós e Contras - a actual organização e gestão das cidades...

Programa Prós e Contras

Quando: dia 21 de Março
Onde: Porto - Teatro Rivoli.

O debate teve como tema a actual organização e gestão das cidades, estratégias e prioridades, e teve no palco o presidente da Câmara Municipal de Porto, Dr. Rui Rio, e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. António Costa.

Pode ser (re)visto no site:
http://ww1.rtp.pt/icmblogs/rtp/pros-contras/

17 de março de 2011

PALESTRA com SASKIA SASSEN e JOÃO FERRÃO e LANÇAMENTO DA REDE ‘GLOBAL CITY

‘MOVIMENTOS CÍVICOS DE CIDADE’ NUM MUNDO GLOBAL | ‘CITY CIVIC
MOVEMENTS IN A GLOBAL WORLD’


PALESTRA com SASKIA SASSEN e JOÃO FERRÃO e LANÇAMENTO DA REDE ‘GLOBAL CITY
2.0’

MOVIMENTO CÍVICO ‘CIDADES PELA RETOMA, REFORMA E TRANSIÇÃO’

Quando: 18 de Abril, 2ª. feira, 18:00-20:30
Onde: Livraria Ler Devagar – Lisboa http://www.lerdevagar.com/index.php?option=com_content&view=article&id=3&Itemid=2

PROGRAMA
18:00 - Lançamento da Rede 'Global City 2.0' | ‘Cidades pela Retoma’ (http://globalcity.blogs.sapo.pt/| http://noeconomicrecoverywithoutcities.blogs.sapo.pt/ )
18:20 - Cosmopolitismo e Dinâmicas Cívicas Urbanas em Portugal - João Ferrão (ICS )
18:45 - Global Cities and City Civic Movements - Saskia Sassen (Columbia University, NY)
19:30 - Comentário e moderação de Debate - João Seixas e Mário Alves

Inscrições para: cidadespelaretoma@gmail.com e livraria@lerdevagar.com (sala com
lotação limitada)
Mais informações: 96.3621239

[Rede 'Global City 2.0'] http://globalcity.blogs.sapo.pt/
[Movimento cívico 'Cidades pela Retoma']
http://noeconomicrecoverywithoutcities.blogs.sapo.pt/
[Página Facebook 'Cidades pela Retoma'] http://www.facebook.com/CidadespelaRetoma
[Livraria Ler Devagar] http://www.lerdevagar.comhttp://www.lerdevagar.com/

(*)
Saskia Sassen is now the Lynd Professor of Sociology at Columbia University after a decade at the University of Chicago and London School of Economics. Her recent books are Territory, Authority, Rights: From Medieval to Global Assemblages ( Princeton University Press 2006) and A Sociology of Globalization. (Norton 2007). She has now completed for UNESCO a five-year project on sustainable human settlement for which she set up a network of researchers and activists in over 30 countries; it is published as one of the volumes of the Encyclopedia of Life Support Systems (EOLSS) (Oxford, UK: EOLSS Publishers) [http://www.eolss.net ]. Her books are translated into sixteen languages. She has written for The Guardian, The New York Times, Le Monde Diplomatique, the International Herald Tribune, Newsweek International, the Financial Times, among others.

BOOKS & ARTICLES
http://www.saskiasassen.com/
YOUTUBE PRESENTATIONS
'Can Cities Re-invent their Civic Capacities?'
http://www.youtube.com/watch?v=jP0xkPpUCOs
Ciudad global y la lógica de expulsión del neoliberalismo
http://www.youtube.com/watch?v=7Dc-2v_YjJ4&feature=related
New public/new public spaces
http://www.youtube.com/watch?v=bZq2RhqRK-M&feature=related
Unstable meanings - The city and the new wars
http://www.youtube.com/watch?v=yEomHOhO7Tc&feature=related

15 de março de 2011

A dispersão das actividades económicas

A dispersão das actividades económicas

Enquadramento da Problemática
Desde a Revolução Industrial, a ocupação do solo pelas actividades económicas tem interessado às diversas áreas de pensamento sobre a cidade. O processo de tomada de decisão sobre a localização de determinada actividade económica envolve a ponderação de diversos factores que influenciam as diferentes alternativas territoriais. Actualmente assiste-se a diferentes formas de implantação e organização das actividades económicas no território. Do conjunto das actividades económicas, analisaremos a dispersão da localização industrial num determinado território, através de uma metodologia que permite identificar, por um lado, o contexto histórico e institucional em que se inserem e, por outro lado, as principais dinâmicas a esta associada, através dos seus principais agentes.

Introdução histórica
Numa primeira etapa, designada de pré-industrial ou manufactureira …
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A segunda etapa aqui retratada, impulsionada com a Revolução Industrial no séc. XIX …
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As primeiras intervenções urbanísticas, pós Revolução Industrial…
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Em finais do séc. XIX e inícios do séc. XX, período relativo à Segunda Revolução Industrial…
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Na distribuição funcional, preconizada pelas New Towns, foi ensaiada a aplicação de regulamentação sobre a implantação industrial no território que procurava a descentralização produtiva, reservando o núcleo histórico para actividades administrativas e de serviços, e remetendo o processo de fabricação para áreas especializadas, nas periferias das cidades.
A necessidade de ordenar a indústria que se vai instalando nesta periferia e de resolver os problemas de circulação e de habitação dos operários, levaram à defesa da segregação funcional e à aplicação do zonamento surgido, nos inícios dos anos 20, pela “mão” do Movimento Modernista….
...
Em finais da década de 60, as pequenas e médias empresas proliferaram no território, fruto da descentralização produtiva e da utilização de novas tecnologias. …
...

Localização industrial em meio disperso
A existência de diferentes contextos territoriais, nos quais a actividade industrial actualmente se insere, enquadrou a definição de uma metodologia de abordagem que procurou identificar as tipologias de localização industrial num determinado território. Ainda em termos metodológicos caracterizou-se, sob a perspectiva teórica, estas localizações industriais, estruturadas de acordo com um referencial territorial, sintetizado em três grandes grupos: a zona especializada, o contínuo urbano (mistura funcional) e o espaço rural disperso (Carmona, 2008).
Centremo-nos sobre o último, procurando caracterizar a localização da actividade industrial em espaço rural disperso, abordando as repercussões da sua relação com este território.
A localização da actividade industrial em espaço rural disperso é caracterizada, fundamentalmente, pela forma espontânea e não planeada, suportada pela rede viária e condicionada pelo cadastro da propriedade, evoluindo, em muitos casos, de uma forma linear, ao longo desta estrutura territorial. Os factores relacionados com o abandono da actividade agrícola influenciam esta fixação, mas também a existência de outras actividades em solo rural atraem a actividade industrial que complementa, nestes casos, sectores como a extracção mineira, florestal ou as explorações agrícolas. Porém, actualmente, também podemos confirmar uma tendência para a fixação de usos não tradicionais que encontram, em solo rural, maior disponibilidade de espaço e a preços mais acessíveis. Podemos designá-los de factores de natureza fundiária (Carmona, 2008), nos quais também estão incluídos os instrumentos de ordenamento do território, vinculativos dos particulares, e os benefícios fiscais.
A mistura funcional também tem lugar nesta tipologia de localização industrial, a par de uma maior “permissividade” quanto aos impactes desta actividade, crê-se que por influência de factores relacionados com o ambiente local e as motivações pessoais. O factor acessibilidade assume, por seu turno, uma enorme importância no que respeita à localização desta actividade quanto às necessidades de proximidade a nós rodoviários fundamentais, cujos traçados que ocorrem em espaço rural constituem uma oportunidade à fixação nestes locais de outras funções de cariz mais urbana.

Caso de estudo
Observemos o caso de estudo no sentido de desenvolver um exercício de confronto entre a perspectiva teórica atrás retratada e a definição de tipologias de localização industrial para este determinado território.
O concelho da Batalha ...
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Uma metodologia de definição de tipologias de localização industrial
A identificação de tipologias de localização industrial neste território, com base nos 3 grupos tipológicos apresentados sob a perspectiva teórica, não decorreu de forma tão óbvia (Carmona, 2008). O caso de estudo é caracterizado predominantemente pela mistura entre os espaços urbanos e rurais, resultado de uma ocupação humana difusa no território, designada de urbano-rural. Existe uma fragmentação do espaço rural resultante da presença de pequenos aglomerados populacionais onde se fixam algumas actividades económicas, alternados com áreas envolventes agrícolas ou florestais, onde pontualmente ocorre a localização industrial.
Esta assumpção levou à necessidade de estabelecer uma outra metodologia de identificação de tipologias de localização industrial baseada num zonamento das características naturais homogéneas do concelho – o vale do Lena e seus afluentes e o Maciço Calcário Estremenho. Esta metodologia implicou a definição de um conjunto de indicadores como: a organização territorial, a acessibilidade, o suporte físico e os usos (predominantes) (Carmona, 2008). Para cada um dos indicadores foram estabelecidos critérios de definição das tipologias de localização industrial que resultaram num conjunto de 7 tipologias de localização industrial, do qual destacamos, no que interessa à ocupação dispersa desta actividade:
• O contexto urbano-rural, sujeito a uma organização linear, nas proximidades da rede viária secundária, condicionada pela presença de recursos hídricos, superficiais ou subterrâneos;
• A ocorrência pontual em contexto urbano-rural, servida pela rede viária local, com condicionalismos geomorfológicos e hidrogeológicos do Maciço Calcário Estremenho;
• O contexto dominantemente rural, com organização linear, nas proximidades da rede viária secundária, com condicionalismos geomorfológicos e da flora existente, sem a presença da função habitacional.

Procurando fazer uma síntese conclusiva no que respeita a algumas tendências verificadas neste território, ao nível da dispersão da actividade industrial, é de referir o seguinte:
• A existência de estabelecimentos industriais em pequenos aglomerados rurais ou nas suas proximidades - anteriormente associados à actividade agrícola, actualmente acolhem outras tipologias de usos, aproveitando vantagens relacionadas com a proximidade ao local de residência ou pela oportunidade fundiária;
• A permissividade construtiva em espaço rural – a ocupação extensiva do solo de áreas agrícolas, florestais ou de interesse paisagístico pela actividade industrial ocorre, simultaneamente, com a fixação pontual da função habitacional;
• A existência de uma realidade urbano-rural, com mistura funcional – onde simultaneamente a indústria e a habitação se fixam sob uma organização linear, nas proximidades de um eixo viário secundário, com a acessibilidade assegurada pela rede viária local. Condicionalismos do suporte físico, como a existência de linhas de água, limitam esta fixação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Rita Carmona

link para o texto integral: https://www.ua.pt/ii/ocupacao_dispersa/ReadObject.aspx?obj=17445

Sugestões de Leitura

O CONVÍVIO NO HABITAR E NO ESPAÇO URBANO - Parte I

Artigo de António Baptista Coelho
INFOHABITAR - revista do grupo habitar, Ano VII, n.º 337

Índice

1 - Entre convivialidade e privacidade, um equilíbrio vital
2 - Introdução à convivialidade arquitectónica residencial
3 - Aspectos estruturadores da convivialidade
4 - A convivialidade: da habitação, à vizinhança e ao bairro
5 - Estratégias de convivialidade
6 - A rua convivial: matéria base do bom urbanismo
7 - A convivialidade nos espaços públicos versus a espaciosidade nos espaços edificados
(i) A convivialidade nos espaços públicos
(ii) A convivialidade na vizinhança de proximidade e na relação desta com os edifícios
(iii) A convivialidade nos espaços edificados
8 - Carácter e importância específica da convivialidade
9 - Notas de reflexão e para desenvolvimento sobre a convivialidade arquitectónica residencial

in: http://infohabitar.blogspot.com/

Estratégias Urbanas para as Cidades do sec. XXI

Seminário "Estratégias Urbanas para as Cidades do sec. XXI"

Quando: 18 de Março
Onde: Coruña
Quem coordena: Joan Busquets

14 de março de 2011

Conferência "25 Anos de Desenvolvimento Regional e Urbano em Portugal"

Quando: 16 de Março de 2011 - 17h30m
Onde: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa - Auditório Sedas Nunes
Com quem: João Seixas, Augusto Mateus, António Figueiredo

Morfologia Urbana em Portugal: Abordagens e Perspectivas

1ª Conferência da Rede Portuguesa de Morfologia Urbana

Quando: 8 de Junho de 2011
Onde: Departamento de Geografia, Faculdade de Letras, Universidade do Porto
Quem organiza: Rede Portuguesa de Morfologia Urbana

A Rede Portuguesa de Morfologia Urbana é um grupo regional do International Seminar on Urban Form.
Os objectivos do grupo são:
i) promover e desenvolver o estudo da forma urbana em Portugal;
ii) estabelecer e desenvolver uma rede de investigação no domínio da forma urbana em Portugal, através: da organização de reuniões e conferências, da publicação de uma newsletter, e da realização de candidaturas comuns a financiamento nacional;
iii) estabelecer uma relação privilegiada com o International Seminar on Urban Form, através da colaboração com iniciativas de debate e divulgação do ISUF, e da realização de candidaturas comuns a financiamento Europeu.

in: http://pnum.fe.up.pt/pt/

VII Encontro Nacional dos Planeadores do Território

ENPlanT- 2011

Quando: 24 de Junho

Onde: Aveiro

Quem organiza: APPLA - Associação Portuguesa de Planeadores do Território

Temas:
1. Perfil e enquadramento profissional do planeador/ urbanista
2. A crise económica, o papel dos planeadores/ urbanistas e das instituições de planeamento
3. Revisão dos PDM: reflexão sobre os desafios da prática

7 de março de 2011

“Cidades pela Retoma” no Movimento Milénio

'Envolver os cidadãos na vida local!'

O Movimento Milénio é uma grande iniciativa nacional de procura de respostas para o futuro, revelação de caminhos e tendências com verdadeiro impacto na vida dos portugueses.
Lança o desafio a todos os cidadãos na procura de soluções para as grandes questões que vão definir e caracterizar a vida das próximas gerações de portugueses em quatro grandes áreas: Democracia, Negócios, Cidades e Consumo.
O ponto de chegada de todas essas ideias, projectos e visões futuristas é em www.movimentomilenio.com.
Movimento Milénio vai premiar os melhores projetos visionários dos portugueses.

Com o objetivo de envolver os cidadãos na vida local, um projeto, subscrito por José Carlos Mota, Rodrigo Cardoso, Miguel Barbot, João Seixas, Gonçalo Santinha, Rui Matoso e Catarina Rodrigues, foi apresentado a concurso na área Democracia.

“Cidades pela Retoma” é o nome desta proposta que já está a produzir um mapa de blogues de ruas, bairros, vilas ou cidades, aproveitando o “Ano Europeu do Voluntariado para promover mais cidadania activa”.

O vídeo de apresentação do projecto pode ser visto em:
http://www.movimentomilenio.com/2011/03/objetivo-envolver-os-cidadaos-na-vida-local/

Quem quiser votar neste projecto só tem de ir a este link e
clicar (do lado direito)
onde diz
GOSTAM DESTE PROJETO
(é possível votar uma vez por dia...)

....................

‘GLOBAL CITY 2.0’ - REDE INFORMAL GLOBAL DE ‘MOVIMENTOS CÍVICOS DE CIDADE’ É UM
ESPAÇO DE REFLEXÃO SOBRE POTENCIAL E LIMITAÇÕES DESTAS (NOVAS) FORMAS DE
‘DEMOCRACIA DE PROXIMIDADE’
CONTRIBUTO DO MOVIMENTO ‘CIDADES PELA RETOMA’ PARA PAINEL ‘DEMOCRACIA’ DO
MOVIMENTO MILENIO (http://www.movimentomilenio.com/)


IDEIA
Aproveitando o facto de 2011 ser o ‘ano Europeu do Voluntariado para promover
mais cidadania activa’ (http://europa.eu/volunteering/), e do crescente reconhecimento das cidades e da condição urbana da humanidade, como elementos vitais para o nosso futuro e sustentabilidade comum, ‘CIDADES PELA RETOMA’ assume-se como um movimento informal de cidadãos e um desafio público por uma reflexão colectiva sobre o papel das cidades, em particular num momento histórico com importantes evidências de crise (económica, mas não só) e de mudança de paradigma – na verdade, de uma verdadeira transição histórica.

Pretende-se que este movimento se afirme como um ponto de encontro de cidadãos
interessados e de experiên cias inovadoras (‘boas práticas’) nos mais diversos domínios deintervenção e actuação em cidades (cidadania, tecnologia, economia, urbanismo, ambiente, coesão e inclusão social, cultura e cosmopolitismo), para que as suas propostas, práticas, métodos e resultados possam florescer e inspirar outras experiências, aprofundar diálogos, estimular aprendizagens colectivas, no fundo potenciar o papel das cidades como motores efectivos do desenvolvimento das regiões e do País.

O ‘CIDADES PELA RETOMA’ (http://noeconomicrecoverywithoutcities.blogs.sapo.pt/) teve a sua génese inicial de mobilização nas redes virtuais e sociais mas procura dar origem a iniciativas reais em diferentes cidades, visando a organização de SESSÕES DE REFLEXÃO/ACÇÃO SOBRE COMO PODEM E DEVEM AS CIDADES (E AS SUAS COMUNIDADES) DESENVOLVER-SE E ORGANIZAR-SE PARA RESPONDER A ESTE MOMENTO DE TRANSIÇÃO. Estas sessões de reflexão pretendem desenhar uma ‘AGENDA LOCAL PARA A RETOMA’ que deverá identificar iniciativas ou projectos de acção no curto, médio e longo prazo, a diferentes escalas (das escalas dos grandes sistemas urbanos e metropolitanos, às escalas de cada bairro, rua, habitação) num conjunto de domínios chave que tenham potencial de geração de esperança: de emprego, de animação da actividade económica e social, de organização espacial e funcional das cidades. Este esforço deverá ser complementado com a análise e observação de experiências relevantes a nível nacional e internacional (mobilizando para isso os ‘saberes técnicos e científicos’), com a valorização dos esforços cívicos locais relevantes e que já estão no terreno e a utilização de mecanismos de comunicação e informação para uma forte mobilização colectiva em torno desta ‘agenda local para a retoma’ (http://agendalocalpelaretoma.blogs.sapo.pt/).

A iniciativa que o CIDADES PELA RETOMA apresenta ao PAINEL ‘DEMOCRACIA’ do
MOVIMENTO MILENIO (organizado pelo EXPRESSO e MILLENNIUM BCP) é o projecto
‘GLOBAL CITY 2.0’ - REDE INFORMAL GLOBAL DE ‘MOVIMENTOS CÍVICOS DE CIDADE’ e um
ESPAÇO DE REFLEXÃO sobre o POTENCIAL DESTAS FORMAS EMERGENTES DE
‘DEMOCRACIA DE PROXIMIDADE’.

O ‘GLOBAL CITY 2.0’ é uma oportunidade de criar uma plataforma de diálogo e
conhecimento entre diferentes ‘movimentos cívicos de cidade’ a nível local, nacional e internacional, tirando partida das novas tecnologias. Para além disso, pretende funcionar como um espaço de partilha de experiências e de aprendizagem colectiva, com potencial elevado por envolver movimentos cívicos de diferentes países e culturas. Por último, o projecto é uma oportunidade para mobilizar saberes técnicos e científicos para aprofundar o conhecimento sobre esta forma de ‘democracia de proximidade’ e sobre a importância das cidades como instrumento e palco da 'reinvenção da democracia'.


BENEFÍCIOS DO PROJECTO
Identificam-se os seguintes benefícios/potenciais do projecto:
· Dar visibilidade a dinâmicas cívicas locais;
· Permitir estimular o envolvimento dos cidadãos na vida colectiva local;
· Estimular aprendizagens e diálogos entre diferentes movimentos, sobretudo os de
maior proximidade física;
· Criar condições para um maior escrutínio público das actuações cívicas locais;
· Aprofundar conhecimento (técnico-científico) sobre ‘movimentos cívicos de cidade’


ACTIVIDADES
Como primeiro passo desta rede está já a produzir-se um mapa de ‘blogues [ou sites] de ruas, bairros, vilas ou cidades’ promovidos por cidadãos ou grupos (formais ou informais) de cidadãos que gostam de pensar de forma colectiva sobre o futuro das suas cidades (http://globalcity.blogs.sapo.pt/).

Como segundo passo, está a desenvolver-se um esforço de mobilização de instituições e
personalidades nacionais e internacionais (investigadores, profissionais das cidades,
artistas, jornalistas e cidadãos interessados) para apoiar a divulgação das iniciativas (em particular o mapa de ‘movimentos cívicos de cidade’) e a reflexão sobre o potencial e limitações deste tipo de dinâmicas cívicas.

Num último momento, irá procurar sistematizar-se conhecimento sobre a realidade dos
movimentos cívicos de cidade a nível nacional e internacional, procurando identificar
tendências/ problemas tipo, agendas de preocupação, modelos organizativos e formas de
comunicação.

DESAFIO DE MOBILIZAÇÃO
O movimento ‘Cidades pela Retoma’ aproveita esta oportunidade para convidar todos os
potenciais interessados – organizações ou indivíduos (investigadores, profissionais das cidades, artistas, jornalistas e demais cidadãos interessados), a manifestar interesse em participar no desenvolvimento desta iniciativa global.

MAIS INFORMAÇÃO
- [blogue] http://globalcity.blogs.sapo.pt/- [movimento ‘Cidades pela Retoma’] http://noeconomicrecoverywithoutcities.blogs.sapo.pt/
e
http://www.facebook.com/CidadespelaRetoma
- [email] globalcitytwopointzero@gmail.com
ou
cidadespelaretoma@gmail.com

SUBSCRITORES DA PROPOSTA
José Carlos Mota, Rodrigo Cardoso, Miguel Barbot, João Seixas, Gonçalo Santinha, Rui
Matoso, Catarina Rodrigues

6 de março de 2011

A CASA E A CIDADE – RTP2

A CASA E A CIDADE

Uma série que se propõe ensinar a ver e a pensar a arquitetura

Estando, todos nós, mergulhados em arquitetura (boa ou má, não há construção que não tenha a sua arquitetura); sendo a arquitetura uma das disciplinas em que os portugueses mais têm marcado pontos internacionalmente; sendo a arquitetura uma das atividades que mais polémica gera no espaço público é particularmente RELEVANTE a produção da série A CASA E A CIDADE. Uma encomenda da RTP2, com a Parceria da Ordem dos Arquitetos, à Produtora Pop Filmes. Em seis episódios, de 30 minutos cada um, são tratados seis temas nevrálgicos que explicam, de forma simples e direta, as implicações da arquitetura nas nossas vidas e as implicações dos nossos valores e comportamentos na arquitetura. A partir de uma ideia original da Professora de Arquitetura Ana Tostões e com o acompanhamento científico dos arquitetos Ricardo Carvalho e Nuno Grande, que desenharam os guiões e escolheram o elenco de entrevistados, Graça Castanheira realiza uma série inteligente e inteligível, elegante e pedagógica. Uma série cujo tempo de vida ultrapassará em muito as seis semanas em que estará em exibição na RTP2.

6º episódio - A Cidade depois da Cidade
Este episódio aborda a evolução do espaço urbano português após a instauração do regime democrático em 25 de Abril de 1974. O arquiteto Manuel Salgado e o geógrafo Álvaro Domingues descrevem-nos essa relação, simultaneamente profícua e perversa, entre a recente urbanização do território e a democratização do seu governo. O debate sobre o “direito à cidade”, reivindicado por populações e arquitetos durante o PREC – no programa SAAL –, dá lugar, já na década de 80, a uma gestão urbana de raiz tecnocrática e apoiada na “miragem” dos fundos de coesão estrutural atribuídos pela Comunidade Europeia. O território português é, a partir de então, marcado pela infraestruturação rodoviária, pela fixação de novos centros de serviço e de consumo, e pela realização de operações e eventos lúdico-turísticos, que arrastam, atrás de si, uma urbanidade difusa sem identidade ou limite precisos. Esta é, pois, a cidade que resulta do fim da cidade canónica, tal como a conhecíamos até aqui.
Coordenação Científica de Nuno Grande

É possível ver todos os episódios da série no link:
http://tv1.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=27233&e_id=6&c_id=8&dif=tv

Paul Claval em Guimarães


Terra dos Homens: a Geografia

Quando: 9 de Março de 2011 - 15:00h
Onde: Universidade do Minho - Azurém - Guimarães - C2.36

Nesta palestra, Paul Claval propõe-se falar do seu mais recente livro, publicado no Brasil (Editora Contexto) no final de 2010: Terra dos Homens: a Geografia.

A obra divide-se em quatro partes:
- "A Geografia como prática"
- "A Geografia como experiência do espaço e dos lugares"
- "A Geografia como ciência: a contribuição dos gregos e a sua reinterpretação na Renascença"
- "A Geografia como ciência: a Geografia moderna e as suas mutações"

Paul Claval (1932-) é um geógrafo francês, professor emérito da universidade de Paris IV-Sorbonne. Interessou-se pela Geografia económica nos anos 50, pelo trabalho de economistas espaciais, e trabalhou com diversas orientações da Nova Geografia durante os anos 60. A partir dos anos 70 dedicou-se à Geografia cultural, realizando diversos trabalhos considerados como pioneiros na disciplina, procurando sempre mais os processos económicos, sociais e políticos do que a descrição geográfica.
Em 1992 fundou a revista Géographie et cultures, e em 1996 ganhou o prémio Vautrin Lud, um equivalente na Geografia ao prémio Nobel.

in: http://www.geografia.uminho.pt/uploads/Claval-text.pdf

5 de março de 2011

VIII CONGRESSO DA GEOGRAFIA PORTUGUESA

REPENSAR A GEOGRAFIA PARA NOVOS DESAFIOS
- Competências, Investigação, Acção


Quando: 26, 27 , 28 e 29 de Outubro de 2011
Onde: Lisboa
Quem organiza: Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) da Universidade de Lisboa e Associação Portuguesa de Geógrafos (APG)

Subtemas:
- Avaliação de programas e planos territoriais
- Crises e respostas sócio-espaciais inovadoras
- Desenvolvimento regional local
- Dinâmica dos ambientes físicos e biofísicos
- Geografia, educação e futuro
- Lugares, cultura e identidades
- Mobilidades sociais e geográficas
- Mudanças ambientais e novos paradigmas no uso do território
- Planeamento territorial e governança
- Resiliência e sustentabilidade num mundo em mudança
- Riscos, protecção civil e ordenamento do território
- Sistemas de informação geográfica, detecção remota e modelação territorial
- Turismo, lazeres e viagens

O VIII Congresso da Geografia Portuguesa irá contar com uma sessão extraordinária dedicada ao trabalho de Orlando Ribeiro

in: http://www.apgeo.pt/files/docs/Newsletter/News_8CongressoAPGa.pdf

1 de março de 2011

“Provocações em formato low cost para melhorar as nossas cidades"

“Provocações em formato low cost para melhorar as nossas cidades"

José Carlos Mota (Aveiro) Fernando Veludo/NFACTOS

Gente de todas as áreas e profissões está a unir-se num novo movimento chamado Cidades Pela Retoma. São activistas em ambiente digital que tentam agitar as consciências dos decisores. Dispensam o fato e a gravata, não dizem mal, estão é atentos, observam tendências, e não tiram os olhos das medidas de baixo custo que podem dar altos lucros em termos de qualidade de vida. Será que alguém os ouve?
Por Carlos Filipe (textos) e Nuno Saraiva (ilustração).

O mundo actual está cheio de exemplos de como se cria inquietação a partir da Internet e é precisamente isso que o movimento cívico Cidades Pela Retoma quer promover.

São académicos que não usam fato e gravata, pelo menos à hora em que exercem as suas provocações cívicas num teclado de computador. Não gritam, não são contestatários, pesquisam, reflectem, lançam bases de discussão e propõem algo de novo para as suas cidades. Vão agarrando ideias na blogosfera, numa base de baixo custo, desde que elas melhorem a qualidade de vida dos cidadãos.

O número de aderentes a este movimento já vai na ordem dos milhares, incluindo 64 plataformas cívicas nacionais. Juntaram-se numa rede de blogues e sites – aGlobal City 2.0 – para pensarem de forma colectiva o futuro dos locais onde vivem e trabalham. Nesta “esquina” da Internet encontram-se 230 blogues, de 15 países, a que se juntaram nove parceiros institucionais.

A voz vai, portanto, engrossando e tende a contrariar uma certa surdez sempre que se fala na palavra “cidadania”. “Os benefícios de um processo de inquietação colectiva podem ser múltiplos: cria a oportunidade de conhecer melhor a agenda de preocupações que outros países estão a construir e com as quais podemos aprender. Podemos identificar recursos e potenciais desconhecidos e lançar desafios para encontrar iniciativas de baixo custo e alto valor acrescentado de execução e efeito rápido e visível e que possam animar a vida económica e social das nossas cidades. Uma acção que pode ajudar a combater algum marasmo cívico e ajudar a mudar o quadro mental muito caracterizado por um “deixar andar”", explica um dos rostos deste movimento, José Carlos Mota.

Referências abrangentes

As referências são muito abrangentes. Nomes como o do pastor protestante Martin Luther King Jr., o activista dos direitos cívicos norte-americano assassinado em 1968. Ou um documento estratégico assinado pelo actual Presidente da França, Nicolas Sarkozy. Ou nomes mais próximos dos portugueses, como Ernâni Lopes e Augusto Mateus.

As sementes do movimento Cidades Pela Retoma foram lançadas por José Carlos Mota. É a partir de Aveiro que este especialista em planeamento do território e docente universitário vai agitando consciências. “O movimento nasceu no quadro de um conjunto de dinâmicas cívicas e de profissionais ligados à investigação em planeamento do território para reflexão sobre as cidades e o seu papel no desenvolvimento do país”, explica Mota.

Muitos outros projectos fazem ou fizeram o mesmo no estrangeiro: o Core Cities, focado no desenvolvimento das cidades inglesas; nos Estados Unidos, o Emerald Cities, que mais não é do que uma ampla coligação nacional em que se misturam sindicatos, grupos cívicos, especialistas, políticos preocupados em definir estratégias para tornar as nossas cidades e metrópoles mais verdes.

Só isto chegaria para dar voz ao que, globalmente, já está sublinhado: “Não há recuperação económica sem as cidades.” Barack Obama, Presidente dos Estados Unidos, terá pensado o mesmo quando criou, na sua Administração, o gabinete de estudos urbanos.

Tirar partido da web

O movimento luso também se concentra em particular nos “instrumentos de política pública de cidades – como parcerias para a regeneração urbana – e o seu papel na retoma económica”, salienta José Carlos Mota, especificando que “a informalidade do movimento advém do facto de a sua génese ser cívica e estar ligada à necessidade de mobilização de reflexão colectiva”. Tudo isto “tirando partido das novas tecnologias, como a Internet”, e as novas ferramentas de comunicação, como os blogues e as redes sociais, descreve.

Mais a norte, está Miguel Barbot, consultor na Sociedade Portuguesa de Inovação, formado pelo Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais do Porto IPAM. É um dos activistas da Associação de Cidadãos do Porto, constituído por profissionais criativos de áreas tão diversas como a economia, gestão, marketing, sistemas de informação, direito, design ou arquitectura. “É o que nos permite construir e oferecer ideias, em vez de nos limitarmos a protestar”, explica Miguel Barbot, que descreve a ACdP como uma organização informal e aberta a todos os cidadãos preocupados com o futuro da cidade e da Região Norte.

Cultura conservadora

A gestão autónoma do Aeroporto Sá Carneiro, no Porto, foi a causa que serviu de ponto de partida para este grupo, que defendia um modelo baseado nos princípios da economia social. Os proveitos da exploração do aeroporto seriam investidos para pagar o investimento privado já realizado e todos os lucros seriam canalizados para projectos na região, com o duplo objectivo de apoiar o crescimento do aeroporto e de apoiar socialmente populações mais carenciadas. “Todas as ideias da ACdP são baseadas neste princípio: pensar em soluções criativas com forte impacto económico e social”, sustenta Miguel Barbot.

No contexto actual, “a agenda política nacional e local tem de se centrar rapidamente nos instrumentos e meios de promoção do desenvolvimento económico e ainda acentuar a necessidade de pensar como o podemos fazer de forma colectiva”, afirmava esta associação portuense, no fim de um debate realizado em Novembro de 2010. Porém, é mais fácil enunciar do que fazer – inquietar é simples, difícil é criar a partir dessa inquietação -, e por essa razão o grupo já fazia então uma ressalva: “Há que ter em conta uma certa cultura conservadora e pouco avessa à mudança.” Falava-se obviamente dos portugueses.

O número 1540 é o ano em que Faro foi elevada a cidade. Desde 2009, faz também parte do nome da associação Faro 1540, que se empenha na defesa e promoção do património ambiental e cultural.

Conta Bruno Lage, engenheiro do Ambiente e mestre em Gestão e Políticas Ambientais, que “a melhoria substancial do grau de formação dos portugueses” e “o despertar do conceito de cidadania” mobilizaram “a participação alargada dos cidadãos na gestão e desenvolvimento da sua cidade”. Isso, acrescenta Bruno Lage, “não só ajudará a corrigir erros e falhas técnicas de determinados projectos, programas ou planos, como permitirá que surjam alternativas”.

Em Aveiro, José Carlos Mota diz que o trabalho na Escola de Planeamento Territorial ligada à universidade foi uma fonte de experiências internacionais inspiradoras, que acabaram por alimentar o movimento Cidades Pela Retoma. Está tudo na Internet, pejado de documentos com orientações de política pública. O Instituto Drum Major (IDM), uma respeitada associação cívica de Nova Iorque, é uma dessas referências. “Apartidária, think tank não lucrativo e geradora de ideias que alimentam o movimento progressista”, o IDM tem como farol ideológico Martin Luther King Jr. Fundada por Harry Watchel, advogado e conselheiro daquele antigo líder do movimento que lutou pelos direitos cívicos da população nos Estados Unidos, o IDM foi refundado pelos filhos de ambos, William Wachtel e Martin Luther King III. Ao seu trabalho se dirigiu, com reverência, outro antigo Presidente norte-americano, Bill Clinton – “uma prioridade urgente para a nação”.

Os relatórios do IDM destinam-se a evidenciar as políticas que fragilizam as classes desfavorecidas. No caso de Nova Iorque, uma análise da política urbana ainda recente identificou problemas graves que conduzem a um impasse no seu desenvolvimento. Por exemplo, durante a propagação do vírus H1N1 (gripe A), um milhão de trabalhadores de Nova Iorque não beneficiou de um só dia de trabalho pago, quando eles ou algum familiar foram afectados pela doença. Daí resultou um tombo na produtividade e aumentou-se a possibilidade de contágio. Na Costa Leste dos EUA, em São Francisco, fez-se precisamente o contrário – e a comunidade empresarial não se queixou de ter sido prejudicada.

Nova Iorque gasta por ano milhões de dólares com subsídios ou isenções de taxas para empresas privadas desde que estas assumam que não vão mudar de cidade. Aparentemente, esta ideia parece uma lógica imbatível, uma política defensável, porém, os resultados foram efeitos perversos, como concluiu o IDM: Nova Iorque passou a subsidiar trabalho precário e poucos postos de trabalho novos.

Em Inglaterra, a união de vozes, mesmo que algumas sejam institucionais, ganha importante poder de reflexão (e reivindicativo) com a plataforma Core Cities, uma associação de oito municípios e dos seus presidentes – Birmingham, Bristol, Leeds, Liverpool, Manchester, Newcastle, Nottingham e Sheffield – para a promoção do seu crescimento. Dialoga com Londres, a fim de criar o melhor ambiente económico, na certeza de que são aquelas cidades que criam a sua própria agenda, e não os gabinetes ministeriais.

Em França, o Presidente Sarkozy e o primeiro-ministro François Fillon não hesitaram em recorrer à sociedade civil quando, há um ano, em plena crise, pediram que se identificasse a melhor forma de libertar o país desse peso. A Comissão para a Libertação do Crescimento Francês foi composta por dezenas de personalidades, dos mais variados quadrantes. A liderança foi entregue a Jacques Attali, escritor, membro do Conselho de Estado, presidente da PlaNet Finance, organização não lucrativa que assiste instituições em 80 países com programas de microcrédito.

Cidadãos na liderança

Mas que ligações podem todas aquelas medidas ter quando centradas na escala portuguesa? O que é isso das Cidades Pela Retoma no cenário nacional? Qual o papel dos decisores? E que benefícios daí podem recolher as comunidades urbanas? José Carlos Mota coloca-as em perspectiva e identifica outros actores:

“Em 2006, o prof. Ernâni Lopes [1942-2010, economista e antigo ministro das Finanças] sugeriu que os agentes económicos, sociais e culturais deveriam ter coragem para reinventar a economia e o próprio país, e que essa reinvenção tinha um terreno privilegiado em áreas como o turismo, o ambiente, os serviços de valor acrescentado e as cidades. Mais recentemente, o comissário europeu da política regional, Johannes Hahn, sustentou a mesma tese e referiu que as regiões e as cidades terão um papel principal na estratégia UE-2020, para a qual deve ser já iniciada uma agenda de reforma para encorajar uma nova economia, que se quer inteligente, ecológica e mais inclusiva”.

José Carlos Mota insiste que “as cidades – pensadas em rede – têm um potencial interessante de articulação de novas abordagens. O que falta é uma visão que articule as diferentes políticas em torno desta nova dimensão e que eleve as cidades à categoria de desígnio estratégico”.

Mota defende que “a ideia da criação de uma agenda local para a retoma parece interessante e mobilizadora”. “O esforço inicial está dirigido para criar e alimentar uma troca de informação entre grupos cívicos. Talvez se justifique que o poder local pudesse assumir esta bandeira como uma prioridade. Mas isso não deve inibir o papel (liderança ou controlo) dos cidadãos no processo.

No Porto, Miguel Barbot destaca que “os autarcas serão em breve os políticos mais decisivos, face à importância das cidades enquanto catalisadores independentes de factores e fenómenos económicos, sociais e culturais decisivos para o desenvolvimento dos países”.

in: Jornal "Público", 27/2/2011