9 de março de 2015

Urbanização dispersa e mobilidade no contexto metropolitano de Natal: a dinâmica da população e a ampliação do espaço de vida

Ricardo Ojima
Felipe Ferreira Monteiro
Tiago Carlos Lima do Nascimento

URBE - Revista Brasileira de Gestão Urbana,
v.7, n.1, 2015.

Resumo

Embora ainda coexistam no espaço urbano o modelo concêntrico e o disperso de urbanização, considerasse aqui que esse fenômeno reflete mais a cristalização e materialidade dos processos anteriores do que a perpetuação da mesma dinâmica urbana que os fizeram existir. A hipótese perseguida é a de que há um novo padrão de urbanização disperso e fragmentado que tem tornado o tecido urbano socialmente mais heterogêneo e que tal característica coloca novos desafios tanto para a esfera social quanto para a escala individual. Assim, apresenta-se o processo de expansão urbano da Região Metropolitana de Natal (RMN), a partir de uma abordagem espacial e demográfica, em direção ao eixo sul de desenvolvimento urbano. Nesse sentido, observar as transformações ocorridas ao longo da década de 2000 nos permite compreender a dimensão do fenômeno e do processo de dispersão urbana na região e ainda analisar o seu impacto. Os resultados permitem confirmar a ampliação dos espaços de vida associados a uma tendência para a dispersão urbana no sentido sul da RMN, indicando que tais processos também estão por ocorrer em regiões metropolitanas nordestinas.

Considerações finais

A expansão urbana acelerada nesse novo contexto contemporâneo constitui-se, portanto, em uma nova forma de viver a cidade. Uma cidade líquida onde há um descompasso entre o espaço de vida urbano e o espaço de vida social. A política urbana deveria, portanto, seguir alguns princípios básicos, buscando recuperar a função social da cidade de modo a integrar essas dimensões e favorecer uma visão integrada e sistêmica da cidade para o indivíduo.
Mas a participação da população nos mecanismos de gestão local, ao mesmo tempo em que se torna um contexto privilegiado de transformação, torna- se uma demanda pouco exercida pela comunidade, pois a vida cotidiana na cidade dispersa passa a ser fragmentada devido à fluidez dos nexos da mobilidade espacial. Ou seja, a fragmentação espacial ao mesmo tempo em que expande os espaços de vida individual (Marandola, 2006; Marandola & Mello, 2005), também cria um efeito de desfiliação social no local de residência e de trabalho.
Essa condição propicia um avanço da sociedade moderna para um processo de liquefação, onde “os fluidos se movem facilmente” (Bauman, 2001, p. 8). Na maioria dos casos, a ausência de políticas sociais e a separação dos grupos sociais no espaço (processos que caracterizam a segregação) retroalimentam as desigualdades sociais características do modelo de acumulação produtivo. Mas as pessoas se moldam, se ajustam às condições existentes e exercem a sua mobilidade no espaço urbano a fim de garantir sua reprodução social e até mesmo a mobilidade social. Assim, o estilo de vida que é engendrado pelo urbano torna-se um aspecto que serve para agravar ou não a vulnerabilidade social nos novos contextos da urbanização. Baseado nessa análise, podemos dizer que os elementos para a dispersão urbana já se encontram evidentes no contexto das regiões metropolitanas nordestinas. Essas regiões, tradicionalmente mais compactas, passam por mudanças importantes nos últimos anos que a colocam nessa nova trajetória.
Assim, detalhar os fatores demográficos contribui para entender a urbanização recente, uma vez que permite analisar o processo para além da materialidade intrínseca da cidade formal, cidade edificada. Afinal, é a partir da mudança na forma das pessoas viverem e se deslocarem pela cidade que o urbano formal vai se redesenhar nos próximos anos.
Se o planejamento metropolitano não levar em conta que novas dinâmicas de espaços de vida ampliados associados à urbanização dispersa que estão surgindo no contexto regional, o risco de que novas vulnerabilidades sociais passem despercebidas ao poder público aumenta consideravelmente. Nesse caso, o desafio de gestão se torna uma questão praticamente insolúvel, pois a ausência de uma instância legítima de poder supramunicipal que regule a lógica da ampliação dos espaços de vida faz com que a metrópole apresente efetivamente uma dinâmica populacional regional, favorecendo uma maior dispersão.

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http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/urbe?dd1=14756&dd99=view&dd98=pb

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