12 de maio de 2015

Conferência Internacional "Flâneur – Novas Narrativas Urbanas"

Quando:
12 e 13 de Maio


Onde:
Lisboa - Teatro São Luiz


Organizam:
Procur.arte, CIAC/UAlg, DINÂMIA’CET-IUL / ISCTE – IUL e IHA/FSCH-UNL


Esta conferência será um momento chave da programação do projecto “Flanêur” - projecto de arte no espaço público que tem por base a fotografia contemporânea, o território urbano e o trabalho em rede - que, a partir de Lisboa, se disseminará internacionalmente.

Descrição

Descrito por Baudelaire como um transeunte na cidade, um observador imparcial da vida urbana, um homem cuja “paixão e profissão” é “desposar a multidão”, o flâneur é uma figura chave da modernidade ocidental. Independente e anónimo, imerso na multidão, o flâneur sente-se em casa em qualquer parte da cidade. Retira prazer da contemplação do efémero e da natureza cambiante da vida moderna, no fluxo da qual participa com distanciamento. Acima de tudo, o artista como flâneur tem, na perspectiva de Baudelaire, “a faculdade de observar” e “o poder de expressar” a volátil beleza da modernidade.

Enquanto, na década de 1930, os escritos produzidos por Walter Benjamin sobre Baudelaire propõem uma pertinente reflexão sobre o mito do flâneur – problematizando em particular a sua relação face ao desenvolvimento do capitalismo urbano moderno –, formulações mais recentes sobre a prática de caminhar pela cidade, tais como a deriva situacionista, tendem simultaneamente a convocar a genealogia do flâneur e, conscientemente, a desviá-la. Em 1956, Guy Debord descreveu a deriva como uma “técnica de passagem transitória através de variados ambientes”, uma experiência de percorrer a cidade na qual o caminhante abandona hábitos prévios de circulação, de forma a descobrir a cidade e atravessar as suas articulações “psicogeográficas”. Outras explorações da noção de deambulação urbana incluem, por exemplo, a perspectiva de Henri Lefebvre sobre a produção social do espaço (1974), ou as retóricas da caminhada pedestre de Michel de Certeau (1984), nas quais práticas como caminhar na cidade são tomadas, entre outros aspectos, como uma forma de apropriação ou “manipulação” de construções espaciais existentes.

Inicialmente definida como masculina, a figura do flâneur na modernidade reflecte, de acordo com autores como Griselda Pollock (1988), uma divisão do espaço e das actividades significativamente baseadas no género e na classe social. Neste sentido, e mais recentemente, a historiadora de arte Marsha Meskimmon (1997) propôs uma alteração conceptual, do flâneur para o pedestre, de modo a explorar a relação entre o espaço urbana e as “subjectividades encarnadas”.

De facto, tal como a psicanalista Maria Kehl observou, a cidade é o berço do homem comum – anónimo, parte da multidão. A cidade consiste num lugar ideal de relação com o necessário esquecimento quotidiano sobre a natureza efémera da nossa experiência num espaço que está em constante transformação. De forma a resolver o puzzle urbano, somos guiados por partes fundamentais que separamos do restante. E todo o resto permanece nas margens. Tal como nos filmes, aquilo que não nos interessa fica fora do enquadramento. Nesta medida, a “minha cidade” não é apenas minha; não consigo partilhá-la porque ela existe apenas em mim. A outra cidade, ou a “cidade real”, é sempre um outro espaço, que atravesso, mas o qual nem sempre me reflecte. A cidade real é o espaço de alteridade, onde não reconhecemos aqueles com os quais quotidianamente nos cruzamos. São invisíveis para nós, como o somos para eles.

Nesse sentido, e na perspectiva da cidade, o espaço urbano é, na sua própria natureza, o território do flâneur. Simultaneamente, certos espaços, entre os territórios urbanos, são tradicionalmente mais marcados pela experiência da flânerie. Os centros históricos, incluído os bairros culturais, são particularmente relevantes nestas dinâmicas, pois que se afirmam como espaços de socialização e de boémia, mas também de transgressão artística e cosmopolitismo e conduzem o nosso olhar para as relações entre cidade, criatividade e liminaridade.

Partindo do flâneur tal como construído pelos discursos do e sobre o modernismo, esta conferência pretende repensar as genealogias desta figura, considerando as suas múltiplas inscrições, negociações e transformações na prática e na teoria ao longo do século XX.

Programa (resumo):

Sessão de abertura – Apresentação Projecto Flâneur
Francesco Careri
Caminhar como prática arquitectónica

Painel 1: A deriva urbana na Arte Moderna e Contemporânea
Basia Sliwinska
A ‘estética do pedestrianismo” e as políticas de pertença na arte contemporânea de mulheres

Painel 2: Cidade, Fotografia e Cinema – A representação do flâneur no audiovisual
João Soares
Medir com a memória, olhar com os pés

Painel 3: Os territórios da flânerie: a experiência actual dos espaços públicos urbanos
Álvaro Domingues
Os territórios da flânerie: a experiência actual dos espaços públicos urbanos

Ver mais:
http://sigarra.up.pt/faup/pt/noticias_geral.ver_noticia?p_nr=14616
http://www.procurarte.org/acao/flaneur-novas-narrativas-urbanas-conferencia-internacional/

Sem comentários: