9 de julho de 2010

Ordenamento da rede escolar/ desordenamento do território?

Foi recentemente anunciada uma medida que pretende o reordenamento da rede escolar. O que é que a medida de fecho das escolas com menos de 21 alunos tem a ver com a dispersão? O facto é que esta medida me traz dúvidas, bem como outras que têm vindo a ocorrer no mesmo sentido noutros equipamentos.

Situemo-nos então na parte mais rural do nosso país, sobretudo na larga faixa interior, já de si tão desertificada em termos de população.

Muitas aldeias, nesta zona do país, vão fechando as portas enquanto as populações têm vindo a concentrar-se nas vilas e cidades. Até podemos assistir a este movimento de braços caídos e dizer que é natural, inevitável, mas pergunto-me então: devemos, além disso, utilizar uma política pública para reforçar esse movimento?

Isso não será contraproducente, a machada final para pequenas localidades que, apesar de todas as circunstâncias adversas (problema de emprego, de acessibilidades, baixa natalidade, etc, etc ) ainda têm a audácia de ter entre 10 e 21 alunos (com menos já fecharam, julgo). Afinal é preciso ainda ter um certo dinamismo para ter um tal número de alunos!

Em sentido oposto a esta medida, fazem-se malabarismos de criatividade e invenção para lançar projectos de desenvolvimento regional e rural, através dos quais se lançam milhões e milhões de euros nacionais e comunitários (para os quais também contribuímos) e que incluem a dinamização de actividades e ainda precisamente a reabilitação de aldeias e de pequenos centros.

Isto para dizer que esta medida me parece demasiado sectorial e não teve em conta outros aspectos: há que apelar a outras alternativas e não ir pela via que parece mais directa, mas que pode ser, afinal, a mais complicada e onerosa.

Quer-se poupar dinheiro, mas no final será que se poupa? a rede de transportes escolares e a segurança dos alunos e as horas de percurso? Para além dos outros custos atrás mencionados.

Queremos dar melhores condições aos alunos? Mas não podemos pensar em equipamentos itinerantes em vez de alunos itinerantes? Fomentar o intercâmbio entre escolas, o trabalho em rede, a troca de experiências, as visitas periódicas?

Termino esta minha reflexão dizendo que neste caso do povoamento do interior, a pressão para a concentração é de tal ordem, tão avassaladora, que é caso para ser mais amigo da dispersão do que inimigo.

Lisboa-8 de Julho de 2010
Maria Albina Martinho

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