3 de agosto de 2011

I: a nova Bouça, no Porto, um conjunto projectado por Álvaro Siza Vieira e António Madureira

António Baptista Coelho

Fig. 01
72 fogos na Bouça (128 fogos na totalidade), Porto, promovidos pela cooperativa Águas Férreas, C.R.L., construídos pela empresa FDO – Construções, S.A., com o projecto e a coordenação do arquitecto Álvaro Siza Vieira e do arquitecto António Madureira.

“Trata-se de um notável conjunto habitacional, referência de um período muito significativo do nosso passado recente, de que se realça o facto de ter sido reabilitado e concluído com a colaboração dos moradores de origem, trinta anos após a sua concepção e execução parcial.

A forma como se articulam o edificado e o espaço aberto, através da forma e exposição das fachadas que delimitam espaços ajardinados que se abrem à envolvente urbana, potencia a diversidade de usos, e permite também uma regulação climática.

É de grande relevância o tratamento exemplar da luz, nesta obra de grande beleza formal e actualidade.”

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Fig. 02
Um do aspectos que mais impressiona o visitante desta nova Bouça é a a sua presença como elemento de marcação e consistência urbana, definindo, com naturalidade, fins e inícios de percursos, e de percursos intensamente marcados pelo peão e/ou pelo peão transportado na excelente infraestrutura de acessibilidade e de “montra” urbana que é o Metro do Porto – que tem uma estação contígua/encostada à Bouça.
Nesta perspectiva acontece, neste conjunto renovado e finalmente completo, uma certa oferta à cidade de um “novo” conjunto residencial atraente e urbanisticamente marcante, enquanto a “nova” intervenção aproveita da cidade envolvente as relações urbanas estáveis e vitalizadas de uma malha consolidada.
Fig. 03
Naturalmente que nesta troca de benefícios há também que ter em conta a verdadeira valia cultural e histórica desta intervenção, que contribui, objectivamente, mais um pouco, para a importância desta cidade como sítio privilegiado da história da Arquitectura portuguesa e europeia (e este é um contributo que se deve fazer, assim, estrategicamente, pouco a pouco, mas sempre de uma forma activa); e, sem dúvida, para a sua caracterização como cidade-lugar específica e cidade de lugares específicos e com uma entidade/identidade positiva e estimulante.
Fig. 04
Um outro aspecto que importa considerar é a questão da humanização, uma humanização que se lê no desenho global, que se lê na escala global e apontada à própria escala humana, que está um pouco por todo o lado, e que se lê, afinal, nos caminhos de apropriação activa e passiva que marcam acessos comuns e entradas de habitações.
Fig. 05
Depois podemos focar a questão de estarmos em presença de uma pequena vizinhança alargada estimulantemente composta de diversas vizinhanças de proximidade com identidades específicas, bem associadas às diversas tipologias edificadas: temos acessos por galerias marcadas por canteiros alongados e floridos, mas também acessos privados directos entre espaço público e habitação em pequenos recessos agradavelmente domésticos, e ainda acessos directos por escadas privadas. E cada uma desta soluções se associa à sua própria vizinhança de proximidade, sempre total e agradavelmente aberta ao uso público.
Fig. 06
Falámos já das estratégica e afirmadas relações entre habitação e espaço público, ou mesmo entre habitação e cidade, mas convém referir aqui a inteligência de certas soluções de vãos de entrada nas habitações, onde se harmoniza a possibilidade de abertura de vista e de iluminação natural, com uma adequada previsão de encerramento e segurança.
Fig. 07
E finalmente, antes de se fazerem algumas notas sobre a operação de reabilitação, convém sublinhar a sabedoria da introdução de formas de organização domésticas talvez menos correntes, mas extremamente estimulantes no apoio a diversas formas de habitar a casa, num passo fundamental e que é urgente de diversificação da concepção residencial ao nível do multifamiliar; e assim temos, por exemplo, habitações, em dois níveis, sendo que no menos elevado se concentram espaços mais privados enquanto no superior as zonas mais sociais podem ser vividas de uma forma mais aberta e integrada, ou de formas mais destacadas e separadas, cabendo a escolha a quem habita.
Fig. 08
Não seria adequado passar sem referir, apenas como nota a lembrar numa visita que o leitor irá, sem dúvida, fazer à Bouça, a importância, a sobriedade urbana, a residencialidade e a escala humana que caracterizam a pormenorização deste conjunto.
Fig. 09
Tal como se referiu faz-se, agora, uma referência muito breve, mas fundamental, a tratar-se de uma iniciativa habitacional cooperativa associável ao incansável e meritório trabalho da Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE), e designadamente ao seu Presidente Guilherme Vilaverde; sendo que aqui a cooperativa Águas Férreas, que foi expressamente criada para o efeito de levar a bom termo a reabilitação profunda e a conclusão do projecto inicial de Siza Viera – com a introdução de 72 novas habitações -, conseguiu realizar este objectivo em tempo útil, associando a resolução dos problemas de quem habitava no conjunto, com a introdução de novas valências funcionais (ex., estacionamento colectivo) e com a reabilitação profunda dos edifícios existentes (anulação de crítica patologia construtiva, melhorias importantes em termos de conforto térmico - com isolamento pelo exterior e harmonização da imagem arquitectónica, mediante anulação de intervenções individuais consideradas excessivas e dissonantes).
Fig. 10
A iniciativa cooperativa, associada à acção municipal, assegurou toda esta intervenção com os habitantes originais a habitarem os seus fogos e estruturando a respectiva gestão dos condomínios, o que é um elemento-chave da viabilidade habitacional e urbana deste conjunto por muitos e bons anos.
Fig. 11
Notas finais
Bibliografia

link para o texto integral:
http://infohabitar.blogspot.com/

Enviado por: António Baptista Coelho

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