O cenário do Distrito Federal
Anamaria de Aragão Costa Martins
Mobilidade: deslocamentos entre núcleos urbanos.
em amarelo, áreas urbanas (ano de referência 2004);
em laranja, áreas de concentração de empregos
1. Introdução
As áreas metropolitanas contemporâneas, perspectiva em que se insere o Distrito Federal, encontram-se em um processo que reforça o papel das infra-estruturas viárias na localização de uma série de atividades, que eram implantadas, no passado, em zonas periféricas das cidades.
Este contexto de dispersão territorial segue a lógica de descontinuidade espacial, diluindo o limite urbano-rural.
Vários autores vêm caracterizando neste contexto cenários de polaridades, em que elementos dispersos no território configuram novos pontos de centralidade.
Desde a construção de Brasília, a ocupação do território orientada pelo planejamento seguiu um modelo polinucleado, com cidades economicamente dependentes da capital federal. Verifica-se, desde os anos 90, a passagem a um modelo de dispersão da residência pelo território, a partir de crescimentos suburbanos resultantes do parcelamento irregular de solo rural.
A partir da sistematização dos elementos que surgem como pólos territoriais, este trabalho apresenta as transformações na paisagem urbana decorrentes deste novo tipo de território.
2. Bases do fenômeno da polarização
3. Caracterização das atividades polarizadoras
3.1 A Natureza das atividades
3.1.1 Pólos tecnológicos
a) Pólos de produção
b) Parques tecnológicos e científicos
c) Equipamentos sociais metropolitanos
d) Parques empresariais
3.1.2 Pólos de lazer
3.1.3 Pólos comerciais
a) Grandes superfícies comerciais
b) Comércios de região
c) Parques comerciais
3.1.4. Pólos intermodais
3.2. A morfologia das polaridades
3.2.1 Recintos
3.2.2 Containers
3.2.3 Somatório de edificações
3.2.4. Agrupamentos lineares
3.3. O problema da localização das polaridades
4. Conclusões: os novos espaços da cidade difusa
No Distrito Federal, incentivou-se o modelo de ocupação extensiva do solo, como solução à frágil estrutura ambiental (pelo tipo de solos e especialmente pela situação do território em áreas de nascentes).
Deve-se recordar, que também reflete um modelo cultural (7), associado com o culto à cidade-jardim como a alternativa por excelência à problemática da cidade industrial do século XIX. Este modelo foi reelaborado em diferentes versões, sendo uma delas o modelo de cidade-parque de Brasília.
O apelo ambiental, modelo cultural e mudança nos modos de locomoção foram determinantes no padrão de dispersão urbana verificado em grande parte das áreas metropolitanas, do qual o DF não é exceção.
Como conseqüência, observamos que a dispersão urbana delineia novos espaços territoriais:
a) De espaços fluxos a recintos urbanos: rodovias cuja função inicial era a conexão entre núcleos urbanos consolidados passam a adquirir feição urbana, já que atraem, de forma lindeira à via e em sua extensão, numerosos pólos urbanos. Estas novas ruas do território implicam a revisão de seu desenho viário, uma vez que os trechos mais urbanos implicam menores velocidades, maiores movimentos de entrada e saída de veículos, maior número de paradas do transporte coletivo. Estes espaços consolidam-se como grandes corredores de transporte e requerem sua revisão na hierarquia viária.
b) Paisagens urbanizadas: a paisagem ao longo da rodovia já não é a idealizada nas “parkways” (estradas parque) da primeira metade do século XX. A paisagem da rodovia da cidade difusa está caracterizada pela sucessão de grandes bolsões de estacionamento, elementos de publicidade de grande porte, edificações de grandes dimensões, novas fontes luminosas e áreas livres residuais. Áreas passíveis de serem preservadas por sua importância ambiental são convertidas em espaços intersticiais em uma mancha urbana fragmentada e contínua.
c) Do centro urbano à estrada-mercado: perde importância o modelo de centro urbano tradicional como o espaço com grande acessibilidade nos núcleos urbanos compactos, onde estão concentrados as principais instituições, estabelecimentos comerciais, locais de emprego e de lazer, espaços de interação social. Aquelas atividades de caráter cotidiano passam a localizar-se nos pontos de maior acessibilidade entre as áreas residenciais dispersas. Volta-se ao modelo de urbanização ao longo das estradas do qual derivou o embrião de muitas cidades no passado. Entretanto a nova rua mercado não dá origem ao ponto fundacional do núcleo urbano, pois não se percebe a concentração de usos e edificações de uma cidade. No caso do DF, é necessária a articulação dos diferentes parcelamentos residenciais com a intervenção sobre os vazios intersticiais. Realocando as polaridades lindeiras às rodovias nestes espaços pode-se configurar o embrião de novas localidades urbanas.
d) Do centro regional às polaridades territoriais: na dinâmica de fluxos da cidade difusa, muda a lógica morfológica de um centro regional. Já não é mais a área urbana compreendida entre núcleos urbanos de grande porte e influência regional, onde poderiam estar localizadas importantes instituições e grandes empreendimentos comerciais. O anel viário que conecta tais núcleos de importância regional configura o centro regional, pois as atividades tendem a se localizar ao longo da infra-estrutura viária. No caso do DF, contrariando o previsto pelo PDOT/97, o centro regional configurou-se no anel viário formado pelas vias EPTG, Pistão Sul de Taguatinga, parte da EPNB e um trecho da via EPIA.
Com isso, o efeito de um padrão de uso e ocupação do solo, inicialmente desenhado para desafogar os centros urbanos e melhorar a qualidade de vida dos habitantes, parece indicar a urbanização progressiva do território de forma contínua ao longo das infra-estruturas de conexão e dos pontos de intersecção entre áreas suburbanas, cada vez mais dissociadas dos núcleos urbanos consolidados.
In:
Revista Arquitextos
077.04 - ano 07, out 2006
link para o texto integral:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.077/309
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