7 de julho de 2013

“A evolução das formas urbanas de Lisboa e do Porto nos séculos XIX e XX”

da autoria de:
Vitor Oliveira

U. PORTO EDITORIAL, 2013

Este livro analisa a evolução das formas urbanas de Lisboa e do Porto ao longo dos séculos XIX e XX. A primeira parte fornece um enquadramento teórico e metodológico da morfologia urbana, identificando as origens, desenvolvimento e características fundamentais das abordagens dominantes nesta área do conhecimento. Este enquadramento suporta a construção de uma matriz de análise que será aplicada no estudo das duas maiores cidades portuguesas. Na segunda parte do livro caracterizam-se os processos de expansão de Lisboa e Porto, identificando diferentes padrões em diferentes tempos e espaços destas cidades, e evidenciando os impactos dos grandes documentos de planeamento, desde os Planos Gerais de Melhoramento até aos atuais Planos Diretores Municipais. Conclui-se demonstrando que o estudo da forma urbana será enriquecido pela inclusão de novas atitudes metodológicas, nomeadamente o Redesenho Cartográfico suportado por Sistemas de Informação Geográfica.

PREFÁCIO
...

... primeira parte de enquadramento teórico sobre o estudo da forma urbana, passando das abordagens qualitativas tradicionais das Escolas Inglesa, Italiana e Francesa, às abordagens quantitativas mais recentes, com destaque para a Sintaxe Espacial. A introdução teórica inclui ainda uma interessante e útil referência ao estudo da forma urbana em Portugal, destacando os contributos mais importantes dos investigadores que, entre nós, têm procurado dinamizar e enriquecer a área científica da morfologia urbana.
O trabalho de investigação incidiu sobre o estudo da evolução das formas urbanas de Lisboa e do Porto, identificando os períodos morfológicos mais representativos destas duas cidades, em contraponto com a revisão crítica dos principais planos que, desde finais do século xix, têm vindo a guiar o seu crescimento e transformação.
O leitor mais sensível aos aspetos metodológicos notará, certamente, as enormes potencialidades da técnica do Redesenho Cartográfico sobre um Sistema de Informação Geográfica, no tratamento, retificação e análise da cartografia histórica. Por outro lado, o leitor mais interessado na morfologia urbana encontrará neste livro as bases para uma sólida análise comparativa da evolução das cidades de Lisboa e do Porto ao longo dos últimos dois séculos.
A este respeito, a confrontação da cartografia “redesenhada” não podia ser mais elucidativa. A partir do núcleo medieval, e após a intervenção pombalina que se sucede ao terramoto de 1755, Lisboa não mais perde o padrão de crescimento de uma verdadeira capital europeia, assente sobre malhas urbanas estruturadas, que se vão desenhando e convertendo em cidade, em ondas sucessivas e justapostas de desenvolvimento urbano, que tanto marcaram e marcam a qualidade e a notável legibilidade da cidade atual.
Pelo contrário, o Porto mais intimista e conservador, e certamente com menos recursos e ambição, cresce a partir do núcleo medieval à custa da abertura de grandes arruamentos que, em fase posterior, vão dando origem a sucessivas ramificações que acabam por se interpenetrar, vindo a constituir tecidos urbanos, necessariamente mais despadronizados e geometricamente irregulares, questionando a conhecida tese de Christopher Alexander que “a cidade não é uma árvore”. Mas no Porto quase parece.
Atualmente, as estruturas urbanas destas cidades apresentam-se consolidadas, os saldos demográficos registam sucessivos défices, acompanhando e alimentando uma oferta largamente excedentária de espaço edificado.
Nestas circunstâncias, dificilmente iremos assistir, pelo menos no curto e médio prazos, a períodos morfológicos tão dinâmicos e ricos em realizações e transformações nas cidades de Lisboa e do Porto, e em outras cidades portuguesas, como os períodos morfológicos identificados e revelados neste trabalho, cobrindo os séculos xix e xx. Mas isto não quer dizer que as cidades não continuem a evoluir.
Certamente que ao longo deste século, pelo menos nas décadas mais próximas, iremos continuar a assistir a alterações profundas nas nossas cidades, mas de natureza muito distinta das passadas alterações morfológicas. As cidades serão palco, e um palco sempre ativo e comprometido, de transformações mais subtis, assentes sobre novas geografias funcionais e novos modos e estilos de vida, e não tanto sobre alterações físicas, que tenderão a ser mais cirúrgicas, contidas e espaçadas no tempo. Até por isto, este trabalho tem particular atualidade e oportunidade, enquanto registo interpretativo de um passado que, influenciando decisivamente o presente e o futuro, certamente se distinguirá destes, em especial no que concerne à evolução das formas urbanas.
Porto, 2012-12-02
Paulo Pinho

In:
http://www.apgeo.pt/files/docs/Newsletter/Prefacio_AevolucaoFormasUrbanas.pdf
http://editorial.up.pt/livro/show/543
http://loja.up.pt/catalogo/detalhes_produto.php?id=4479

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