12 de outubro de 2013
EXPOSIÇÃO - A Rua da Estrada
Quando:
12/10 A 01/12
Onde:
Centro Cultural São Paulo
A Rua da Estrada é um princípio simples de urbanização, um dispositivo de vida em comum.
A Rua da Estrada não é a rua com seu desenho rigoroso; é um somatório de ocorrências e acasos a perder de vista, alinhados pelo limite do asfalto e pela marcação incerta do espaço privado que se torna público.
A Rua da Estrada não é um lugar; é um fluxo que multiplica relações, um hiperlugar, um tramo do rizoma infinito que organiza a urbanização extensiva.
A Rua da Estrada é como uma corda em que tudo se pendura; um centro em linha; uma congestão; um desassossego. Nem rua, nem estrada; o melhor de uma e de outra ou, segundo alguns, o pior. Em todo caso, lugar de vida e de conflito, terra de ninguém porque de muitos, objeto de tutelas várias e regras múltiplas: o Estado Central e o municipal, o público e o privado, as regras e as convenções; a infração.
A Rua da Estrada não se projeta; é do bricoleur.
A Rua da Estrada é um mundo compósito, um transgênico continuamente processando e combinando elementos de diversas proveniências e condições: “todo o mundo é feito de mudança/tomando sempre novas qualidades”, dizia Camões, que não era pós-moderno nem sabia de cibernética.
Instalação audiovisual do geógrafo português Álvaro Domingue que registra a dissolução de fronteiras entre cidade e campo, com foco em Portugal. A mostra, concebida especialmente para a Bienal, baseia-se no livro “A Rua da Estrada”, do mesmo autor (Dafne editora). O conceito de cidade genérica se estende aqui ao território como um todo, não apenas ao urbano, formando aquilo que o autor chama de “paisagem transgênica”.
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Lugar Comum
É na Rua da Estrada que melhor se percebem as dúvidas e as ansiedades que hoje podemos encontrar acerca do “espaço público” como conceito central da ideia de cidade. Formalmente, não estamos perante as tipologias habituais de espaço público em arquitetura e urbanismo. Não há praças, ruas, avenidas, alamedas, largos, jardins nem parques, exceto quando são estacionamentos. Contrariamente à cidade, a rede de estradas não é uma configuração centrada com elementos de referenciação estáveis. A estrada é um percurso, uma sequência de formas, funções e signos; um centro em linha. Na Rua da Estrada existe um léxico mínimo de acostamentos, valetas, passeios, rotundas e estrada, muita estrada. Todo o resto são invenções forçadas com nomes variados.
Dispositivos/Próteses
Durante séculos, os assentamentos urbanos eram dependentes de tecnologias muito simples para o transporte e o acondicionamento de pessoas, mercadorias, informação ou energia. A distância era um custo, uma dificuldade, um risco. Por isso, a cidade era aglomerada e densa. Fora de seus muros, faltava tudo e os caminhos eram ruins e perigosos. A cidade tinha quase o monopólio da infraestrutura. Hoje, a geografia das próteses tecnológicas que suportam a urbanização é das mais distintas. A “cidade” perdeu o controle da infraestrutura (água, saneamento, energia, telecomunicações, transporte) que hoje irriga territórios imensos onde virtualmente se pode construir uma casa, fábrica ou centro comercial. Por sua vez, vizinhança, relação, interação etc. são qualidades que já não dependem exclusivamente da proximidade física, mas da proximidade “relacional”.
Transgênicos
Na biologia, a manipulação genética produz enormes sobressaltos éticos, estéticos e morais. O mesmo acontece na permanente mutação urbana, de onde resultam as paisagens transgênicas: perturbou-se a “ordem natural das coisas”, a estabilidade que pensávamos ser para sempre. Será possível pensar um macaco ou um coelho fosforescente por conter um traço do código genético de uma medusa? Se o mesmo arsenal genético da fosforescência de um pirilampo for parar num pinheiro, estaremos perante um pirileiro, um pinheirampo ou simplesmente um grande negócio para a indústria das decorações natalinas? É que um transgênico não é um híbrido. A mula vive e confina-se no universo compósito de sua gênese: um cavalo e uma burra. Para uns, terá o pior do cavalo e o melhor do burro; para outros, nem isso, ao contrário. Mas, apesar de tudo, ainda é possível ver na mula todos os traços de sua origem. Como todos os híbridos, é estéril. Coitada da mula e de sua indefinição identitária!
É assim a Rua da Estrada.
Participante:
Álvaro Domingues (instalação audiovisual), Porto, Portugal
In:
http://www.xbienaldearquitetura.org.br/a-rua-da-estrada/#.UoQJ1bIgGK3
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