Do outro mundo, Rua da Estrada
4 Março 2015
Por Álvaro Domingues autor de A Rua da Estrada
A RUA da Estrada do Brasil é hiper-realista. Aquilo que noutro lugar seria apenas uma mínima manifestação de qualquer coisa apenas esboçada, toma aqui um visual transbordante como nos ambientes da realidade aumentada: estacionar na berma pode ser de muitas maneiras; as cores e as letras multiplicam-se numa cacofonia de signos, códigos e suportes fixos e ambulantes; o asfalto vai incerto por limites de vias, valetas e passeios. Nos fios que se penduram nos mesmos postes, Ariadne não saberia encontrar solução para Teseu que até podia não ser comido pelo Minotauro mas morreria electrocutado ou permaneceria eternamente no labirinto sem nunca perceber se o fio era de telefone, de electricidade, fibra óptica ou pesca à linha.
Na vez da limpeza técnica e asséptica do tudo igual, alinhado, certinho, regulado…, vai a aventura da vida de todos os dias, a (re)construção constante de regras de partilha das coisas e dos espaços, tu não me pisas, eu não te dou caneladas, tu não me roubas a bicicleta. Não será o paraíso e, se por distracção ou exotismo parecer que é, logo virão as serpentes assanhadas.
Projectado por Niemeyer, o Palácio da Alvorada ganhou esse nome porque o Juscelino Kubitschek terá dito “que é Brasília, senão a alvorada de um novo dia para o Brasil?”. Eram tempos modernos de utopias de construção do futuro mais que perfeito. Agora, Alvorada é nome de loja de rações para cães e gatos.
Me parece que nem uma coisa nem outra são boas para o brasileiro. Que venha então a primeira luz do dia, que eu estava à toa na vida / o meu amor me chamou / pra ver a banda passar cantando coisas de amor, como canta o Chico.
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